Uma jovem a quem não conheço me pede conselho para saber se vale a pena fazer vestibular de jornalismo. Notem que ela me pede conselho sem que nos conheçamos, mas ainda assim acha relevante meu parecer para tão difícil decisão. Há dez ou quinze anos isso seria absurdo, um paradoxo, mas em tempos de web é mesmo assim.
Diz-me ela: “Envie um help pra mim. Pode ser? È que eu quero cursar jornalismo, mas estou meio pessimista! Pode me dar uns toques? Boa Semana!”.
Notem que ela quer jornalismo, vai partir para o curso, mas sabe que há riscos, porque está “meio pessimista”. É jovem, mas não é mais criança. Imagino que ela deve pedir opiniões em toda a sua rede para o que deve fazer na sua vida e da sua vida. Eu devo ser apenas um dos consultados, na condição, imagino, de um venerável senhor que não é mais menino. Para ela, devo estar rico ou pobre, mas sábio, imagina a jovem do outro lado. Rico ou pobre ou sábio, como jornalista, imaginem. Mas em tempos de web e de imaginação é mesmo assim.
Eu poderia lhe responder que a decisão deve ser dela, que consulte gente mais próxima e íntima, mais sábia ou, vá lá, com algum conhecimento a mais que eu. Que a minha experiência, porque devo ter alguma, em nada lhe pode ser útil. Afinal eu não a conheço, não posso e nem devo me sentir responsável por todas as decisões das pessoas que cruzam o meu correio. Basta-me o peso que carrego mais perto de mim, fora da web. Seria bem simples. Mas a vaidade deste posto de conselheiro me faz ir a seu perfil, antes da resposta.
Descubro que não serei justo em não responder, ou mal responder a uma jovem que cita Tolstoi, desta maneira: “aquilo que foi e que será, e até mesmo aquilo que é, não somos capazes de saber, mas quanto àquilo que devemos fazer, não apenas somos capazes de saber, como também o sabemos sempre, e somente isso nos é necessário. O mal não pode vencer o mal. Só o bem pode fazê-lo”. Li e me pareceu um daqueles salmos premonitórios que os crentes abrem ao acaso em uma bíblia e lhes revelam um caminho. E mais, descubro: a jovem lê Sartre, Freud, Balzac, Górki, Kafka, pelo que declara. Por isso considero que não seria honesto nem respeitoso nem justo que uma pessoa assim não recebesse uma devida atenção. Então lhe escrevo, com as armas do bom sentimento:
“A minha sugestão para você é: faça jornalismo, se não puder fazer outra coisa. Para quem está fora, para quem é jovem, essa profissão tem muito glamour. Mas isso não resiste a 30 dias no batente. Saiba que você vai ganhar pouco dinheiro, mas, em compensação, nos grandes jornais você não terá nem mesmo opinião. A sua opinião será a do dono. Se você estiver disposta a um compromisso rigoroso com a verdade, melhor não querer ganhar dinheiro com jornalismo. Escreva para sites, imprensa alternativa - que não lhe pagam as contas no fim do mês. Mas você estará ao lado da verdade. Não sei bem se isso foi um ‘help’. Talvez fosse melhor dizer que foi um Help!”.
A isso a jovem respondeu com um breve agradecimento – ela agradeceu, é verdade - e sumiu. Está visto, aconselhei errado, porque devo lhe ter dito o que ela não queria ouvir. Está visto, sem nenhuma dúvida, que apesar do meu “pessimismo” ela será mais uma a entrar no jornalismo com a esperança de apresentar o Jornal Nacional. Eu não lhe disse então, mas posso acrescentar aqui. Estudar jornalismo para ser famoso, rico e belo é semelhante ao que todo jovem pensa do casamento. Jamais haverá experiência que lhe sirva. Esses jovens, dizemos os experientes. Esses velhos, dirão eles ao fim.
(*) Escritor e jornalista.
Fonte: Comunique-se
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