Por Dalila Nogueira Pinto
O caso da menina Isabella Nardoni, assassinada há um mês, tem sido o espetáculo da mídia. Este caso reflete a “Política do Pão e Circo”, no caso, mais circo que pão. A mídia apresenta o fato como quem apresenta um espetáculo no palco de um circo, disputa os melhores ângulos da apresentação e concorre a atenção dos telespectadores. Estes, apenas assistem de camarote o show Nardoni, de forma discreta, mas assistem. Ao invés de aplausos: gestos de indignação e espanto. Ao invés de entradas: os telespectadores pagam a apresentação por meio da audiência, e que audiência! Segundo a coluna Outro Canal, de Daniel Castro, na Folha, a audiência dos telejornais cresceu até 46% na primeira quinzena deste mês em relação ao mesmo período de março. Esse aumento é atribuído ao caso Isabella. Nada como um fato deste nível para agitar o palco dos telejornais e entreter o público que não vê mais os telejornais como um meio de informação, e sim, formação de opinião. Sim, os telejornais, além de formarem o circo, estão formando opinião, por indiciar e julgar os dois personagens principais do caso Isabella: o pai e a madrasta. A forma como os suspeitos do crime são abordados é sensacionalista e cheia de parcialidade. A imagem que a mídia construiu dos dois suspeitos é uma imagem criminosa. Isso me lembra Bourdieu ao dizer que “insensivelmente, a televisão que pretende um instrumento de registro, torna-se um instrumento de criação de realidade”. A imagem que os jornais transmitem do pai e da madrasta é uma imagem definitiva, porque o que a mídia constrói é praticamente definitivo pelo poder de influência que ela tem. E essa imagem finda por penalizar quem ainda nem foi julgado perante a justiça. Terá a justiça cedido lugar a imprensa ou a imprensa mudou seu papel? Sua finalidade não era informar? Era! Já Era! Se foi a idéia de responsabilidade, ética e compromisso com a sociedade. Isso parece ser Utopia. O que é válido é o mercado, que exige audiência para manter a empresa jornalística fabricando notícia(espetáculo) e pagando o salário dos jornalistas.
Quanto a cobertura do fato, bem, essa cobertura é extensa, pois são diversos repórteres e cinegrafistas, armados com microfones e câmeras, como se estivessem equipados para uma guerra. Até helicóptero é válido para conseguir o melhor ângulo. A cada telejornal que você assiste pode ter certeza de uma coisa: o caso Isabella será noticiado. Isso não é novidade! Todos os jornais estão realizando uma cobertura homogênea, falam a mesma língua, mostram a mesma coisa, as mesmas pessoas e falam sobre o mesmo assunto:Isabella Nardoni. Sim, porque este é um nome que poderia até ser investido na bolsa de valores, por render muito dinheiro. Já parou pra pensar no quanto a Rede Globo faturou ao dedicar 35 minutos do programa “Fantástico”, no dia 19 de abril? E o caso de denúncias sobre prostituição no Pará nem rendeu tanto tempo. Vai ver que não rende tanto brilho para o espetáculo.
O caso Isabella Nardoni deve nos levar a refletir sobre o real papel da imprensa e cobrar, desse meio, a responsabilidade ao usar imagens e palavras, essas que são capazes de derrubar e ascender, salvar ou matar.
Dalila Nogueira Pinto – Acadêmica do 5° período de jornalismo
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